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O dia se zangou

For some time now, I have been following the work of Vitor Sá.  I am continually impressed at his capacity to absorb diverse influences and synthesize them into an exercise in photographic language. In the photo series “O Dia Se Zangou” (The Day Became Angry, the title from a Brazilian samba by Mauro Diniz), Vitor refers to the melancholic atmosphere around Cariocas (locals from Rio de Janeiro), and tourists when it’s a dreary rainy day and they cannot go to the beach. The pictures are of landscapes, classic theme, taken after thunderstorms or on foggy, gray mornings. The image is, in principle very light, almost easy. Then, you confront the photos: large horizontal washed out colors, omitted iconographic elements of the sky such as clouds, horizons, sun, birds, etc. The front shots and straight angles have some influence of traditional German photography. This relationship, established by a determined photographic tradition, is directly reflected in the content of the images: a simple landscape is a subtle commentary about urban structures, human appropriation of public spaces, and investments in infrastructure. 
 
In addition to the horizontal smudge of colors, there are also vertical elements such as stakes, volleyball poles, and soccer goalposts, which draw attention to another side of the world: Japan. These vertical elements give a particular geometry to the space. It is consistent with traditional Japanese style.  It’s an adjustment to the composition, like an internal tuning fork that vibrates in harmony with the form, peaceful and calm.  In this sense, the work demands a careful assessment from the photographer, which traditional German style does not necessarily care.
 
Finally, the washed out colors, a vintage look, and a way of someone who posts his pictures on Flickr, are not mere coincidence. Vitor’s photography enhances certain movements of contemporary culture. Similar to certain traditional German styles, the everyday ordinary and popular experiences are present. It is a democratic space of expression and greeting. Vitor Sá does not quote, he alludes. He does not relate to, he refers to. The proposed dialogue is not a symposium, is a friendly conversation in a city square, eventually serious, usually mild and thought provoking.

Faz algum tempo que acompanho o trabalho de Vitor Sá e sempre me surpreende a capacidade que ele demonstra de absorver as mais diversas influências e sintentizá-las em um exercício de linguagem fotográfica. Em o Dia se Zangou, título retirado de um Samba de Mauro Diniz, Vitor faz referência ao mal humor que domina os cariocas e turistas em dia de chuva, ou seja, no dia em que não tem praia. As fotos são fotografias de paisagem, tema clássico. Tudo, em princípio, muito leve, quase fácil. Aí vou me defrontar com as fotos: grandes horizontais, cores lavadas, a ausência de elementos iconograficos referentes ao céu - nuvens, horizonte, sol, passarinho voando etc - a frontalidade predominante no conjunto das fotos; tem qualquer coisa de uma tradição alemã de fotografia. Essa relação que se estabelece com a linguagem de uma determinada tradição fotográfica incide na foto direto no seu conteúdo: o que era uma foto de paisagem passa para um comentário sobre estruturas urbanas, modos de apropriação de espaços públicos, investimento em infra-estrutura que, de alguma forma, está alienado.
 
Ainda como elemento de composição das fotos, além das manchas de cor horizontais, aparecem elementos verticais - estacas, postes de vôlei, traves de futebol - que chamam a atenção para outro lado do mundo: o Japão. Esses elementos verticais montam uma particular geometria no espaço compositivo. Se coerente com a tradição japonesa, é um ajuste da composição à um diapasão interno que vibra quando em sintonia com a forma. Nesse sentido, o trabalho reinvindica uma leitura do sujeito fotógrafo que a tradição alemã se orgulha em não dar importância.
 
Por fim, qualquer coisa de familiar - as cores lavadas, certo aspecto vintage - um jeito de quem posta suas fotos no flirck, não há de ser mera coincidência. Sua fotografia potencializa determinados movimentos da cultura contemporânea. Da mesma forma que certa tradição alemã, estão presentes experiências cotidianas, populares e ordinárias. É um espaço democrático de enunciação e recepção. Vitor Sá não cita, alude; não se refere, remete. O diálogo proposto não é um simpósio, é conversa, eventualmente séria, geralmente leve e instigante, numa praça simpática.

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